Cultura do anticancelamento pode ser um dos efeitos da pós-pandemia
O fenômeno do cancelamento, prática que surgiu com a popularização das redes sociais, e o polêmico "tribunal" da internet parecem estar perdendo a força. Se por um lado, o isolamento social fez com que as pessoas passassem mais tempo conectadas e, com isso, se sentiram mais potentes para apontar erros na web, por outro, a crise sanitária aumentou a preocupação social. Tal tendência foi apontada por Raquel Messias, Chief Strategy Officer da Lew Lara, durante o webinar Arena de Ideias.
Segundo ela, o caos decorrente da pandemia de Covid-19 trará uma grande transformação, deixando como legado um mundo mais inclusivo, onde a empatia ganhará mais espaço. Nesse contexto, entra a cultura do anticancelamento. Para ela, as gerações mais novas são mais empáticas, abraçam melhor o erro e a vulnerabilidade.
Embora as perspectivas sejam positivas, para a psicóloga e neuropsicóloga Vanessa Dockhorn, que também participou do bate-papo virtual, o cenário atual ainda é muito dividido. Ela pontuou que existe uma parte da população que quer acabar com a cultura do cancelamento, mas tem uma grande proporção que ainda está alimentando esse movimento do ódio, do que é rígido, do que acha que é o correto.
De acordo com ela, muitas pessoas conseguem perceber o exagero do julgamento do outro em especial nas redes sociais, um espaço que poderia ser usado para o debate de ideias e para a escuta, "para crescer, ter um processo de transformação, de evolução, mas que acaba sendo usado como um lugar de críticas e de colocar a outra pessoa no menor nível possível".
As consequências do cancelamento
Dockhorn ressaltou que, na pandemia, ela e os colegas da área da saúde observaram quanto o cancelamento tem impactado a saúde mental das pessoas. Com as redes sociais, todos estão mais expostos, sendo observados o tempo todo. Um deslize, uma opinião é algo que já pode levar a um cancelamento. Com isso surgem os prejuízos tanto a profissionais quanto marcas. No caso das pessoas, uma exposição negativa traz o aumento em questões envolvendo automutilação, consumo de bebida alcoólica, depressão e síndrome do pânico.
A neuropsicóloga também reforçou a necessidade de que os líderes das empresas e os próprios colaboradores tenham um olhar mais observador, caso percebam que sintomas preocupantes nos colegas. As marcas podem se preparar para agradar a determinados nichos e não a todos.
Monitorar, entender, dialogar e agir
Para Raquel Messias, um mesmo princípio vale para pessoas e marcas: o de escutar. Assim, será possível entender se causa de um cancelamento foi devido a um posicionamento adotado ou a um equívoco cometido pela marca, o que exige um comportamento diferente e mais assertivo.
A dica dada às empresas é agir, sendo completamente transparente. Segundo Raquel, é muito importante que as marcas sejam comprometidas com a sua própria evolução, assim como as pessoas também são. As marcas precisam mostrar que erraram, se retratar, mas mostrando que evoluíram e aprenderam. A especialista deu quatro passos essenciais nesse cenário: monitorar (escutar), entender, dialogar e agir para evoluir.
Fonte: https://www.mundodomarketing.com.br/ultimas-noticias/39448/cultura-do-anticancelamento-pode-ser-um-dos-efeitos-da-pos-pandemia%C2%A0.html