Lenda dos quadrinhos, Stan Lee revolucionou a indústria do entretenimento ao apostar na humanidade
Roteirista se tornou um dos principais nomes do mundo dos quadrinhos e da cultura pop ao mostrar que os super-heróis também poderiam ser humanos.
Morreu na manhã de hoje (12), aos 95 anos, o lendário quadrinista Stan Lee, um dos principais nomes responsáveis pela ascensão da Marvel Comics e o criador de personagens hoje icônicos como o Quarteto Fantástico, o Homem-Aranha e os X-Men. De acordo com a filha do falecido ao TMZ, uma ambulância foi chamada às pressas à residência do autor em Hollywood Hills e ele chegou à ser internado no hospital de Cedars-Sinai, mas a causa de sua morte ainda não foi divulgada ao público.
Além de ser o nome maior por trás da elaboração de inúmeros super-heróis da Marvel junto de desenhistas como Jack Kirby, Steve Ditko e Bill Everett, Lee foi alçado ao status de super-estrela por conta de suas múltiplas aparições nos filmes baseados em suas criações ao longo das últimas duas décadas, naquilo que ficou marcado com a ascensão do gênero dos super-heróis em Hollywood. Dos “X-Men” de Bryan Singer e os “Homem-Aranha” de Sam Raimi a todo o hall de projetos da Marvel Studios e seu universo cinematográfico, o roteirista fez todo tipo de participação especial ao longo dos anos 2000 e 2010, se tornando uma espécie de easter egg ambulante e benzido pelo carinho de todos os fãs.
A contribuição máxima do escritor, porém, foi mesmo a que ele deu no fim dos anos 50, quando liderou dentro da Marvel Comics uma verdadeira revolução do mercado editoral de quadrinhos de super-herói. Antes pautado por ícones idealizados e inalcançáveis, modelos de conduta que literalmente serviam para inspirar a sociedade a ser melhor, o gênero experimentou uma aproximação com a realidade e – em especial – com os jovens graças ao talento de Lee para conceber heróis humanos que tinham que lidar com dramas do dia a dia, desde dificuldades financeiras até as questões dos direitos civis que dominariam as atenções do noticiário político estadunidense na próxima década – temas considerados tabu pela sociedade norte-americana como o racismo e a violência policial eram encarados em suas histórias sem um pingo de hesitação. Foram as criações do autor que catapultariam a Marvel ao status de gigante dos quadrinhos e rival à altura da DC Comics pelas próximas décadas, além de ser a ideia do arquétipo humano imbuído ao super-humano que serviria de principal aposta para os filmes do Marvel Studios décadas depois.
Lee também chegou a fundar em sua carreira a POW! Entertainment, uma empresa criada em parceria com Gill Champion e Arthur Lieberman para desenvolver produções originais no campo do cinema, da televisão e dos videogames; e a Stan Lee Foundation, uma entidade beneficente aberta em 2010 que apoiava programas de amplificação do acesso à literatura e a promoção das artes. No ano passado, Lee chegou a processar a POW! por fraude, mas abandonou a ação poucas semanas depois.
Nos últimos meses, porém, as notícias em volta de Lee sugeriam um quadro triste, gerado em torno de disputas judiciais pelos direitos de seu cuidado (e a tentativa de afastamento de aproveitadores que queriam viver da sua riqueza) e o falecimento em julho do ano passado de sua esposa Joan B. Lee, com quem era casado desde 1947. O quadro médico do escritor também era precário, sofrendo com diferentes enfermidades que incluíram um quadro de pneumonia e um problema na visão.
Sua morte, porém, definitivamente não significa o fim de seu legado. Muito além da Marvel, dos seus super-heróis e da filha J.C. que agora deixa para trás, Stan Lee também será eternamente uma fonte de inspiração para uma grande parcela de artistas do mercado de quadrinhos e um homem que mudou para todo o sempre a visão do público sobre os super-heróis ao mostrar que sua grandiosidade vinha da capacidade de superar os problemas pessoais e cotidianos. Era um triunfo que vinha acompanhado na maioria das vezes da vitória sobre os vilões e pela exaltação da possibilidade de ser excelente nos momentos mais difíceis, algo marcado por sua expressão favorita e tantas vezes repercutida ao longos dos anos:
Excelsior.
Fonte: https://www.b9.com.br/99470/morre-stan-lee-aos-95-anos/